
Em busca de minhas ilhas desconhecidas
Ler Saramago e colocar no papel, digo na tela, a realização desta tarefa, ultrapassa a dimensão de mais um exercício e vai para o caminho da reflexão interpessoal.É impressionante como a correria do dia a dia e as múltiplas tarefas nos impedem de refletir sobre nós mesmos. Refiro-me ao mais egoísta pensamento: O “eu” e apenas o “eu”. E essa atividade nos obriga (e bendita obrigação) a parar, rever a trajetória, os conceitos, repensar sonhos e idéias, avaliar...
Saramago, em seu conto sobre a ilha desconhecida, fala em um homem. Não menciona nome ou origem.Este homem quer um barco para perseguir um sonho: conhecer uma ilha desconhecida. Eu sou uma professora entre outras tantas que também está correndo para a realização de um sonho: fazer a diferença na vida de pessoas; lembrá-las de sonhar e fazer com que percebam que é possível.
Encontramos obstáculos, burocracias, morosidade? Sem dúvida. Nos deparamos com aqueles que não levam a sério nossas angústias, nos ignoram ou que nos oferecem migalhas mais para aplacar a consciência do que pela causa? Com certeza. Mas também encontramos aqueles que compartilham do sonho, da quimera ou da utopia necessária para transformação social pela educação, ética e solidariedade.Não diz o poeta que quem sonha junto o sonho torna-se realidade? Então?!
Se sou sonhadora? Graças a Deus! Mas não daquelas que fica estática só esperando, prova disto é esse momento no Pead. Estabeleço metas e tenho a certeza convicta que tudo o que quero se tornará realidade se for para meu crescimento pessoal e do coletivo.Acredito no merecimento!
Quando, no conto os personagens partem a procura da ilha desconhecida, não seria o mesmo que o momento no qual nós nos envolvemos emocionalmente com alguém e partimos para um relacionamento? Não sentimos como ir ao encontro de algo desconhecido? Isso porque realmente o é. Não temos certeza absoluta de nada a não ser do fato de prosseguir e conhecer. A maternidade, a paternidade, a morte, o trabalho, os estudos...Tudo são experiências, que não importando quantas vezes elas se repitam, serão sempre únicas, sentidas e vividas de forma exclusiva.
Vivo com minha filha e com meu pai, e é no mínimo interessante observar duas gerações tão diferentes convivendo.Perdi minha mãe há 5 anos devido a um câncer.Esse fato foi para mim como uma longa tempestade em noite escura e fria em alto mar num frágil barquinho. Mas sobrevivemos e madurecemos...
Trabalho há nove anos em escola pública, depois de quase desistir e jogar no lixo vários materiais feitos no curso de Magistério. Mas não me tornei professora quando recebi o diploma, mas agora me lembro de que o ‘Ser Professora’ aconteceu quando recebi a minha primeira turma: 4ª série, 25 alunos entre 9 e 16 anos, maioria repetentes e na mesma série e extremamente agressivos.Era final do mês de agosto e eu era a 5ª professora deles. Eu senti que aquele era o momento de ter a certeza.Era eu ou eles. E fomos nós!.Aprendemos juntos, não foi fácil, houve divergências, diferenças, enfim um processo de conhecimento mútuo que culminou no respeito e crescimento de ambos.Foram os 4 meses finais do ano de 1997, que jamais esquecerei! ( Ô ilhazinha íngreme de beleza selvagem!)
Hoje noto que a palavra que me define neste momento é Indignação e esta posição me torna mais ousada para falar o que penso e no que acredito.Me indigno quando vejo tão poucos recursos financeiros e humanos nas escolas, me indigno quando noto a negligência de pais que acham que a escola é depósito de crianças e não assume a total responsabilidade por seus filhos.Me irrita a falta de valorização aos profissionais de educação por parte dos governantes.Mas às vezes receio que um dia eu acostume com tudo isso e acabe por achar que já não vale mais a pena nem ao menos sonhar e buscar mais ilhar desconhecidas.
2 comments:
Nara, quanto mais leio o que escreves, mas a admiro. Tens uma clareza ímpar nas intenções do que aqui colocas; não escondes, não deixas coisa alguma nas entrelinhas, ainda que eu goste do mistério e das idéias que se constroem aos poucos, mas quando se trata de literatura. Parabéns.
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